segunda-feira, 25 de junho de 2012

NA BOCA DO DESERTO



Estava indo, há muito, pra o deserto
e não sabia.

Antes, ao revés, julgava caminhar
das pedras para o bosque
lugar de onde o mel e o vinho jorrariam.

Bastava fazer a travessia.

Em alguma parte passei por algum oásis
mas era para este destino de pedra
silêncio e pasmo
que me dirigia.

Os beduínos há muito compreenderam
o que eu não compreendia:
apenas nos movemos entre pedras, cabras e camelos
olhando ternamente o fim do dia.

A tenda é provisória.

Eterno
só o áspero horizonte de pedra
e a poesia.


Affonso Romano de Sant’Anna,
in Sísifo desce a montanha

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