sábado, 4 de outubro de 2014

CECÍLIA MEIRELLES



I

Seus poemas desenhavam seu fino hastil
Suas corolas vibrantes como pequeninas violas
(ou era a vibração incessante dos grilos?)
Seus poemas floriam na tapeçaria ondulante dos prados
Onde os colhia a mão das eternamente amadas
(as que morreram jovens são eternamente amadas…)

II

Seus poemas,
Dentre as páginas de um seu livro,
Apareciam sempre de surpresa,
E era como se a gente descobrisse uma folha seca
Um bilhete de outrora
Uma dor esquecida
Que tem agora o lento e evanescente odor do tempo…

III

E seus poemas eram, de repente, como uma prece jamais ouvida
Que nossos lábios recitavam – ó temerosa delícia!
Como se numa língua desconhecida,
Sem querer falassem
Da brevidade
E da
Eternidade da vida…

IV

Ah, aquela a quem seguiam os versos ondulantes 
como dóceis panteras
E deixava por todas as coisas o misterioso reflexo
do seu sorriso;
E que na concha de suas mãos, encantada e aflita recebia
A prata das estrelas perdidas…

V

Nem tudo estará perdido
Enquanto nossos lábios não esquecerem
teu nome: Cecília…

Mario Quintana,
in Antologia Poética

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