sábado, 2 de agosto de 2014

CÚMPLICE ALENTO



I
Sou lento.
Mas, atento
aos meus passos,
pesados e passados,
recupero minha História.
E persigo fantasmas
que até do diabo fogem:
aqueles que aflitos se escondem
não sei ainda por onde.
 
II
Sou vento.
Mas avento,
por entre as quatro Estações,
atos que aprendi a sentir,
sem pompa ou circunstância,
da Alma Feminina: de seus argutos,
áridos, vis ou nobres corações.
 
III
Sou advento.
Mas desinvento
cada passo e contrapasso
do meu Tempo e Memória.
Trapiche de infinitos universos,
amargo presenças e presentes:
escassos como parentes;
vários como meus únicos versos.
 
IV
Sou alento
para o leitor atento,
capaz de reler cada linha;
de arguir e beber cada ato.
Ele navega comigo.
Sem perceber o momento,
deslinda meu suposto intento:
torna-se cúmplice de inteiro trato.
 
 
*Jairo De Britto,
 em "Dunas de Marfim"

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