sexta-feira, 26 de julho de 2013

A ARTE DE SER AVÓ



(...)
E então, um belo dia, sem que lhe fosse imposta nenhuma das agonias
da gestação ou do parto, o doutor lhe põe nos braços um menino.
Completamente grátis - nisso é que está a maravilha. Sem dores,
sem choro, aquela criancinha da sua raça, da qual você morria de
saudades, símbolo ou penhor da mocidade perdida.

Pois aquela criancinha, longe de ser um estranho, é um menino que
se lhe é "devolvido". E o espantoso é que todos lhe reconhecem o
seu direito sobre ele, ou pelo menos o seu direito de o amar com
extravagância; ao contrário, causaria escândalo ou decepção, se você
não o acolhesse imediatamente com todo aquele amor que há anos se
acumulava, desdenhado, no seu coração.

Sim, tenho a certeza de que a vida nos dá os netos para nos compensar
de todas as mutilações trazidas pela velhice. São amores novos,
profundos e felizes, que vêm ocupar aquele lugar vazio, nostálgico,
deixado pelos arroubos juvenis.

Rachel de Queiroz

2 comentários:

  1. Enterneço-me diante deste texto ímpar!! Um enorme abraço, vovó!! Que Deus ilumine esta candura presente nos corações dos avós, sempre!

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  2. Obrigada Malu, por sua visita e por sua gentileza. Beijos.

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