quarta-feira, 22 de agosto de 2012

MADRIGAL MELANCÓLICO



O que eu adoro em ti 
Não é a tua beleza. 
A beleza, é em nós que ela existe. 
A beleza é um conceito. 
E a beleza é triste. 
Não é triste em si, 
Mas pelo que há nela de fragilidade e de incerteza. 

O que eu adoro em ti, 
Não é a tua inteligência. 
Não é o teu espírito sutil, 
Tão ágil, tão luminoso, 
- Ave solta no céu matinal da montanha. 
Nem é a tua ciência 
Do coração dos homens e das coisas. 

O que eu adoro em ti, 
Não é a tua graça musical, 
Sucessiva e renovada a cada momento, 
Graça aérea como o teu próprio pensamento, 
Graça que perturba e que satisfaz. 

O que eu adoro em ti, 
Não é a mãe que já perdi. 
Não é a irmã que já perdi. 
E meu pai. 

O que eu adoro em tua natureza, 
Não é o profundo instinto maternal 
Em teu flanco aberto como uma ferida. 
Nem a tua pureza. Nem a tua impureza. 
O que eu adoro em ti - lastima-me e consola-me! 
O que eu adoro em ti, é a vida. 

MANUEL BANDEIRA

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