Uma pobre velhinha franzida e amarelada
sentou-se num banco, em Paris.
A tarde cinzenta andava atrás dela
como um triste gato de feltro e flanela,
igualmente exausta e infeliz.
Entretanto, aquela cidade, aquela
é a maior do mundo, segundo se diz.
E não só maior – mas alegre e bela:
é a cidade chamada Paris.
Por que há uma velhinha tão triste e amarela
sentada num banco em forma de X?
Nunca vi ninguém mais triste do que ela,
em tarde nenhuma de nenhum país.
Nas mãos, uma chave – de que bairro, viela,
porta, corredor, mansarda, canela? –
com um desenho de flor-de-lis.
Cecília Meireles
In: Poesia Completa
Viagem (1939)
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