Este céu de ouro nítido,
mirando-se na água sereníssima,
é Narciso.
Narciso, que se despercebia das coisas todas em torno,
das montanhas imóveis na líquida faiscação da luz macia,
das árvores em balouços esquecidos e lentos,
nas ninfas ágeis e frescas como frêmitos de alvorada
na tarde mansa,
das coisas todas que, no entanto, se saturavam da graça
pura do seu corpo,
- porque a alma inteira se lhe fundia no êxtase da sua
própria beleza refletida.
Narciso, que era,
na harmoniosa alma helênica,
uma adivinhação comovida
do Ser infinito e absoluto
que eternamente se contempla a si mesmo.
Tasso da Silveira
in Poemas
Nenhum comentário:
Postar um comentário