sábado, 1 de março de 2014
UM CAMINHO DE PALAVRAS
Tudo o que sei, já lá está, mas não estão os meus passos
nem os meus braços. Por isso caminho, caminho, porque
há um intervalo entre tudo e eu, e nesse intervalo caminho
e descubro o meu caminho.
Mas entre mim e os meus passos há um intervalo também:
então invento os meus passos e o meu próprio caminho.
E com as palavras de vento e de pedras, invento o vento e
as pedras, caminho um caminho de palavras.
Caminho um caminho de palavras
(porque me deram o sol)
e por esse caminho me ligo ao sol
e pelo sol me ligo a mim
E porque a noite não tem limites
alargo o dia e faço-me dia
e faço-me sol porque o sol existe
Mas a noite existe
e a palavra sabe-o.
António Ramos Rosa,
in "Sobre o Rosto da Terra"
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