domingo, 9 de março de 2014

PEDIDO DE DEMISSÃO



Por não saber fazer o bife perfeito,
por não pregar o botão na camisa,
por não manter o sapato engraxado,
por ser a companheira insuficiente,
impertinente, indecisa,
por não saber me comportar quando ao seu lado

eu me retiro.
E se confiro o saldo apurado,
só me entristeço:
por ver o acorde no violão estaganado,
o poema de amor interminado,
o romantismo que hoje já não se admite.
E no lugar que agora eu não mereço,
fica uma vaga a quem quer que se habilite.
Não fica mágoa,
não deixo sombras,
nem endereço.

Flora Figueiredo
in Florescência













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