segunda-feira, 23 de março de 2015

UMA ALEGRIA PARA SEMPRE



(para Helena Quintana)

As coisas que não conseguem ser olvidadas
continuam acontecendo.
Sentimo-las como da primeira vez,
sentimo-las fora do tempo,
nesse mundo de sempre
onde as datas não datam.
Só no mundo do nunca existem lápides…
Que importa se – depois de tudo – tenha “ela” partido
casado, mudado, sumido, esquecido, enganado,
ou que quer que te haja feito, em suma?
Tiveste uma parte da sua vida que foi só tua e, esta,
ela jamais a poderá passar de ti para ninguém.
Há bens inalienáveis, há certos momentos que,
ao contrário do que pensas,
fazem parte de tua vida presente
e não do teu passado.
E abrem-se no teu sorriso mesmo quando, deslembrado deles,
estiveres sorrindo a outras coisas.
Ah, nem queiras saber o quanto deves à ingrata criatura…
A thing of beauty is a joy for ever
– disse, há cento e muitos anos,
um poeta inglês que não conseguiu morrer.


Mario Quintana,
in 80 anos de poesia


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