A cidade designa-se pelo desassossego
impregnado de histórias errantes.
Multidão anónima, individual, insondável.
Geografia de uma orfandade interior.
Paradoxal labirinto de aves migratórias.
Nenhum caminhante se esquiva à nitidez
da noite sitiada pela própria sombra.
Pé ante pé, a intimidade refugia-se
nos olhares povoados de afeição
e desdiz o rumor do medo
com um gesto de aconchegar palavras.
A cidade é o epicentro de uma confidência
partilhada por quem sabe manipular o silêncio.
Graça Pires
De Labirintos, 1997