segunda-feira, 25 de agosto de 2014

HINO À NOITE



Ó noite, eu te desejo, e anseio o teu abraço
macio como o luar, quieto como o jazigo.
A fadiga me esvai, domina-me o cansaço,
como um boêmio feliz eu vim dormir contigo.
De sonho em sonho andei.Fui poeta, fui mendigo.
Corri atrás do tempo e me perdi no espaço
e vi se desfazer meu pensamento antigo
e em sangue transformar-se a sombra do meu passo.
Um dia, a procurar-te, olhei para o poente:
na estrada solidão da tarde, impertinente,
um pássaro de sol crepusculava a esmo.
Então eu te encontrei e, em meu triste abandono,
meus olhos disfarcei na volúpia do sono
e caminhei cantigo em busca de mim mesmo.

Gilberto Mendonça Teles
In Poemas Reunidos

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