quarta-feira, 19 de fevereiro de 2014
CANTO NEGRO
Sou negro.
A cor da noite adensa a minha pele
e estrela a minha alma.
Sou negro.
Absorvo toda a luz.
Sou amigo do Sol e da Lua.
São meus irmãos todos os seres da Terra.
Sou negro.
Meu sangue é ardente.
Meu pensamento é ardente.
O mundo é para mim o Verbo emocionado.
Sou negro.
E, como a natureza ama o contraste,
amo as mulheres de pele branca e cabelo macio.
Mas, como o coração é um sol
consumindo-se em fogo,
amo as mulheres de pele noturna e sexo forte.
E com todas vou forjando o dia, a tarde e a noite.
Sou negro.
Com meu suor e meu sangue,
meu desespero e minha revolta,
minha dedicação e minha brandura,
minha força e meu sonho,
modelo em bronze e nuvem
o quinhão de humanidade que me coube.
Sou negro.
Meu coração não é incolor,
minha alma não é pálida.
Caminho com meus irmãos de todos os tons.
Juntos, numa ciranda ainda feroz de semelhantes e contrários
mas que do alto Deus vê de mãos entrelaçadas,
vamos fazendo de matéria nobre
—este barro pobre,
esta liga impura—
a luz comum futura.
Sou negro.
E sou branco e amarelo e vermelho e moreno.
E verde.
E azul.
Sou todo o espectro da alma.
Sou homem.
Anderson Braga Horta
In Pulso (2000)
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