segunda-feira, 25 de julho de 2016
RAÍZES
Quem me dera ter raízes,
que me prendessem ao chão
Que não me deixassem dar
um passo que fosse em vão.
Que me deixassem crescer
silencioso e erecto,
como um pinheiro-de-riga,
uma faia ou um abeto
Quem me dera ter raízes,
raízes em vez de pés.
Como o lódão, o aloendro,
o ácer e o aloés.
Sentir a copa vergar,
quando passasse um tufão.
E ficar bem agarrado,
pelas raízes, ao chão.
Jorge Sousa Braga,
“Herbário”, Assírio e Alvim, 1999
DORMIR UM POUCO...
Dormir um pouco — um minuto,
um século. Acordar
na crista
duma onda, ser
o lastro de espuma
que há no sono
das algas. Ou
ser apenas
a maré, que sempre
volta
para dizer: eu não morri, eu sou
a borboleta
do vento, a flor
incandescente destas águas.
Albano Martins,
in "Castália e Outros Poemas"
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