segunda-feira, 21 de setembro de 2015

A ÁRVORE




Ó árvore, quantos séculos levaste 
a aprender a lição que hoje me dizes: 
o equilíbrio, das flores às raízes, 
sugerindo harmonia onde há contraste?

Como consegues evitar que uma haste 
e outra se batam, pondo cicatrizes 
inúteis sobre os membros infelizes? 
Quando as folhas e os frutos comungaste?

Quantos séculos, árvore, de estudos 
e experiências — que o vigor consomem 
entre vigílias e cismares mudos —

demoraste aprendendo o teu exemplo, 
no sossego da selva armada em templo? 
Dize: e não há esperança para o Homem?

Geir Campos
In Rosa dos rumos (1950).
21-9 - Dia da Árvore

domingo, 20 de setembro de 2015

HORA AZUL




Hora azul.No parque, o ocaso
tem sugestões de pintura.
Crescem as sombras e alvura
dos cisnes, no tanque raso.

O velho jardim de luxo
parece um vaso de aromas.
Harmonias policromas
sobem da água do repuxo.

A tarde cai dos espaços 
como uma flor, a um arranco
do vento, cai aos pedaços .

E a noite vem... No jardim,
o luar, como um pavão branco,
abre a cauda de marfim.

Onestaldo de Pennafort
 - In Poesia


sábado, 19 de setembro de 2015

NEBLINA DO TEMPO




Na neblina do tempo
O menino desapareceu,
Levando com ele
Todos meus sonhos e ilusões.
Hoje,resta apenas,
No homem que sou eu,
A sombra do menino,
Daquele menino sonhador
Que fui eu
E que na neblina do tempo
Certa vez se perdeu...


Olympiades Guimarães Corrêa
in Neblina do Tempo 1.996


quinta-feira, 17 de setembro de 2015

AGUARDAMOS UMA LUZ


Arte Vladimir Kush

Aguardamos uma luz de seiva 
que reacenda a treva que nos cega.
Uma luz que não fira a brancura dos muros
nem as sombras dos alpendres
onde plantámos as giestas bravas.
Uma luz que devolva à terra
a farta lembrança das nascentes.
Uma luz para ficar como herança
quando as aves da morte se afastarem
para sempre deste caos
que, assustadoramente, nos acusa.

Graça Pires
De Uma vara de medir o sol, 2012